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Infinita(6)
Author: Jodi Meadows

   Sam abriu caminho pela bagunça.

   — Você pode mandar uma mensagem para a Stef e dizer a ela que chegamos em segurança? Aproveita para tentar descobrir qual é o plano dela.

   Botei a pistola e o DCS do Sam sobre a mesa e mandei uma mensagem do meu. A biblioteca estava aquecida, principalmente após o frio invernal da noite lá fora, mas meu corpo continuava meio congelado e eu não conseguia parar de tremer.

   — Da próxima vez que formos obrigados a fugir de casa no meio da noite — falei —, vou me certificar de estar usando algo além de uma camisola fina.

   Sam resmungou alguma coisa em concordância e arrastou a mesa para escorar a porta. Ela abria para fora, de modo que a mesa não impediria ninguém de entrar, mas pelo menos retardaria qualquer um que tentasse nos atacar.

   Quando finalmente terminamos de barricar todas as entradas, recebi a resposta da Stef.

   Lidea, Geral e Orrin estão indo ao encontro de vocês.

   Repassei a informação para Sam e digitei:

   E quanto aos outros?

   Ela não respondeu de imediato. Suspirei e soltei o DCS de novo sobre a mesa.

   — Como está a sua mão?

   Sam deu de ombros.

   — Vai doer por um tempo, mas acho que não está mais sangrando.

   — Podemos dar um pulo na ala hospitalar. — Peguei alguns livros e os coloquei sobre a mesa. — Ver se conseguimos arrumar algum analgésico mais forte.

   Sam me ajudou a recolher mais algumas outras coisas do chão, abrindo um espaço em volta de uma das poltronas acolchoadas com um cobertor pendurado sobre o encosto. Tudo o que eu queria era me afundar nela, mas…

   — Vamos apenas dar um pulo no banheiro e nos limpar — retrucou Sam. — Depois a gente volta para cá. Minha mão vai ficar bem.

   Minutos depois, saímos do banheiro com o rosto lavado e os cabelos arrumados. Antes que eu pudesse sugerir que nos enroscássemos na enorme poltrona, um rugido baixo reverberou lá fora.

   — O que foi isso?

   — Parece um dos drones. Deve ter sido enviado para limpar os detritos.

   Enfim a praça do mercado e as ruas seriam limpas. Antes tarde do que nunca.

   — Imagino que seja uma sorte eles não terem sido danificados pelo terremoto. Você acha que os drones vão limpar as estradas do lado de fora de Heart também?

   — Deveriam.

   Isso era uma boa notícia. Sair de Heart e de Range seria muito mais difícil se as estradas estivessem bloqueadas.

   Batidas soaram na porta. Ela se abriu um segundo depois, porém tudo o que pudemos ver do outro lado foi escuridão. Dei um pulo para desligar a luz, mas Lidea falou:

   — Cuidado. O terremoto arrastou a mesa para cá.

   Um pequeno grupo de pessoas aguardava do lado de fora. Lidea e Geral seguravam seus bebês, enquanto Orrin carregava as sacolas.

   Relaxei, aliviada.

   — Na verdade, quem fez isso foi o Sam. — Aproximei-me depressa para tirar a mesa do caminho. Assim que todos se viram em segurança dentro da biblioteca, nos sentamos em volta do abajur para compartilhar as histórias.

   — Mat tentou matar vocês? — Orrin parecia não conseguir acreditar.

   — Ele era um dos seguidores de Deborl. — E talvez de Meuric, antes de Deborl. — Acho que ele me atacou uma vez antes.

   Orrin olhou de relance para Sam.

   — Quando foi isso?

   — Lembra quando a Ana ficou desaparecida? — respondeu Sam, e todos anuíram. Na verdade, eu não havia desaparecido, estava dentro do templo, mas graças à mágica do esquecimento que Janan lançara sobre as almas antigas, Sam não fora capaz de lembrar para onde eu tinha ido. Ele tinha dito a todo mundo que eu estava doente enquanto, junto com alguns amigos, procurava por mim.

   Gostaria de poder dizer a meus amigos a verdade sobre o templo, mas eles logo esqueceriam, a menos que eu passasse meses relembrando-os sem parar, tal como fizera com Sam. Era melhor não preocupá-los com um conhecimento que eles não conseguiriam reter.

   — Bem — continuou ele —, Ana apareceu na praça do mercado certa manhã. Pouco antes de eu a encontrar, alguém a atacou e roubou uma chave, mas ela estava tão exausta e assustada que não foi capaz de identificar a pessoa.

   Assenti com um menear de cabeça.

   — Agora sei que foi o Mat. Eu o reconheci hoje à noite. — Achei melhor não acrescentar que ele provavelmente estava sangrando até a morte no banheiro do Sam. — Depois que ele nos atacou, mandamos uma mensagem para Stef e viemos para cá.

   — O que aconteceu com vocês? — indagou Sam.

   Lidea e Geral trocaram um rápido olhar e Lidea disse:

   — Bem, começou com o terremoto.

   — Ariana não conseguia voltar a dormir — continuou Geral —, de modo que eu já estava acordada quando Stef entrou sorrateiramente lá em casa. Orrin estava comigo. Tivemos que arrumar as coisas no escuro, para o caso de alguém estar vigiando a casa.

   Orrin concluiu o relato.

   — Fomos até a casa de Lidea e, depois, Stef ativou os drones e disse para virmos o mais depressa possível para cá.

   — Muito esperto. — Era exatamente o tipo de plano que Stef bolaria.

   — Vocês acham que eles vão atacar as almasnovas agora? — perguntou Lidea. — Achei que o Conselho tivesse prometido protegê-las. Achei que sua apresentação tivesse dado resultado.

   Fiz que não e repeti o que a conselheira Sine tinha me dito certa vez:

   — Existe uma lei que proíbe as pessoas de tentarem me matar. Assassinatos não são vistos com bons olhos, é claro, mas no meu caso, como eles não sabiam se eu reencarnaria ou não, o Conselho tornou o ato ilegal. A lei se estende às outras almasnovas também, mas Deborl, Merton e os amigos deles não dão a mínima. Eles acham que qualquer punição vale a morte de um de nós. Simplesmente nos querem mortos.

   — Por quê? — Lidea apertou Anid de encontro ao peito. — Não consigo entender por quê.

   Eu não queria ter que explicar quem era Janan nem a absurda devoção que eles tinham a ele. Não agora. Portanto, dei de ombros e me recostei no ombro do Sam.

   — O Conselho está fazendo o melhor possível para proteger as almasnovas, mas a verdade é que eles não vão conseguir. Eles podem criar regras, colocar vigias e prender todo mundo que acham que pode vir a causar problemas, mas sempre haverá alguém, alguma falha na segurança. As almasnovas não estão seguras em Heart. E nem os demais cidadãos.

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