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Sadie(8)
Author: Courtney Summers

– O que você quer com o Darren Marshall?

Tento não mostrar no rosto o choque de ouvir o nome dele. Darren Marshall. Então é assim que o Keith se chama agora. Ou talvez Keith fosse o nome que ele usava quando morava com a gente, e Darren seja o verdadeiro; parte de mim quer que isso seja verdade. É bom arrancar uma camada rápido assim. Não sinto nada de bom há muito tempo.

Darren Marshall.

– Sou fi-filha dele.

– Ele nunca falou de filha nenhuma.

– P-por que fa-falaria?

Ele aperta os olhos e segura a foto na pouca luz que há. As mangas soltas e largas da camisa descem o suficiente para eu ver a constelação de marcas de injeção no seu braço esquerdo. May Beth dizia que era uma doença e me fez dizer a mesma coisa para a Mattie, mas não acredito, porque as pessoas não decidem ficar doentes, não é? Demonstre um pouco de compaixão, faça isso por sua irmã. Odeie o pecado, ame o pecador. Como se o vício da minha mãe drogada fosse um fracasso pessoal meu porque não consegui colocar minha compaixão na frente de todas as formas que ela me fez passar fome.

– Tem alguma coisa a dizer?

Ele sabe exatamente para onde estou olhando.

– Não.

– Bom, não é possível. – Ele abre um sorriso leve e chega perto de mim de novo. – É dinheiro? Você estava cagando quando ele foi embora, mas agora está passando fome, é isso? Por que acha que um homem deve mais a você do que a vida que ele lhe deu, hein? – Ele fica em silêncio por um momento e me observa. – Tenho que dizer, garota, não vejo muita semelhança. – Eu levanto o queixo e ele ri baixo, um pouco incrédulo ao olhar de novo para a foto. – Já ouviu falar de bancar a trouxa?

Bancar a trouxa. Expressão idiomática. Eu acho. É tipo ir atrás de coisa nenhuma, mas às vezes coisa nenhuma é tudo o que você tem, e às vezes coisa nenhuma pode virar alguma coisa. E tenho mais do que nada. Sei que o cara da foto está vivo. Se ele está vivo, pode ser encontrado.

Eu pego a foto da mão do Caddy.

– Então eu sou t-trouxa.

– Eu conheci o Darren, mas ele não aparece aqui há muito tempo. Pode ser que eu saiba alguma coisa sobre isso também – diz ele, e minha garganta se aperta porque, como falei, consigo ouvir uma mentira a um quilômetro de distância.

Caddy não está mentindo.

– Vai ter preço – acrescenta ele.

– Já fa-falei que vou pa-pagar. Q-quanto?

– Quem falou em dinheiro?

Pego a foto de volta e ele me segura pelo braço, e o aperto surpreendente dos dedos do sujeito com pernas de aranha me faz querer que minha pele se solte só para eu não precisar sentir. O calor dele. Uma porta bate atrás de nós. Eu viro a cabeça em direção ao barulho.

Tem um caminhão rosnando no escuro como um cachorro preto. Uma garota corre até ele. Ela é pequena de um jeito que me lembra a Mattie, e olho para seu corpinho feito de ossinhos e a vejo parar no lado do passageiro. Ela observa por um momento longo e doloroso, e não tem nada que eu possa fazer para impedir o que acontece em seguida. Vejo essa garota, que não é Mattie, abrir a porta. A cabine do caminhão se acende brevemente enquanto ela entra. Ela fecha a porta. A luz de dentro do caminhão se apaga e a engole.

Caddy enfia os dedos em mim, as unhas afiadas.

– M-me so-solta.

Ele me solta e tosse em seu braço dobrado.

– Vai ter preço – diz ele de novo.

Ele inclina a cabeça de lado, os olhos avaliando meu corpo, e, mais hesitante do que da última vez, coloca a mão no meu braço e me leva para a escuridão. Chega perto de mim, mexe na fivela do cinto, sussurra qualquer coisa no meu ouvido que não dá nem para fingir que é carinhoso. O hálito dele é azedo. Encaro seus olhos, e seus olhos estão vermelhos.

 

 

AS GAROTAS

T1E1

WEST McCRAY:

A primeira metade do álbum da May Beth só tem fotos da Sadie. Ela era um bebê pequeno e feliz, com cabelo castanho, olhos cinzentos e pele rosada e saudável. Não se parecia em nada com a mãe.

MAY BETH FOSTER:

Sadie era idêntica à sua avó Irene, e Claire não conseguia suportar esse fato. Se você visse a Claire com a Sadie, ficaria pensando por que ela teria um bebê. Ela odiava segurar a menina no colo, odiava dar de mamar ou botar a filha para dormir. Eu não estou sendo dramática. A Claire odiava. Eu demonstrava a Sadie o máximo de amor que podia, mas nunca foi o suficiente para compensar o amor que a garota não recebia da mãe.

WEST McCRAY:

Quem era o pai da Sadie?

MAY BETH FOSTER:

Não sei. Acho que nem a Claire sabia. Ela disse que o sobrenome dele era Hunter, então foi isso que botou na certidão de nascimento.

WEST McCRAY:

De acordo com May Beth, Sadie teve uma infância solitária naqueles primeiros seis anos sem a Mattie. O vício da Claire suplantou o amor e deixou a filha carente de atenção.

Sadie era muito tímida por causa da gagueira que desenvolveu quando tinha dois anos. Não havia uma causa evidente. Poderia ser genética. Ou hereditária. Nenhuma outra pessoa da família conhecida da Sadie gaguejava, mas o lado paterno é desconhecido. May Beth encontrou uma gravação que fez quando a menina tinha três anos; e nós tivemos que arrumar um toca-fitas para poder ouvir.

MAY BETH FOSTER [GRAVAÇÃO]:

Quer falar com o gravador, querida? [PAUSA] Não? Posso tocar pra você, e você vai poder ouvir sua voz.

SADIE HUNTER [TRÊS ANOS] [GRAVAÇÃO]:

É ma-mágica!

MAY BETH FOSTER [GRAVAÇÃO]:

É, amorzinho, é mágica. Fala aqui, diz oi!

SADIE HUNTER [GRAVAÇÃO]:

M-mas eu q… eu quero o-o… eu q… o…

MAY BETH FOSTER [GRAVAÇÃO]:

A gente tem que gravar primeiro.

SADIE HUNTER [GRAVAÇÃO]:

M-mas eu q-quero o-o-ouvir!

WEST McCRAY:

Sadie nunca superou a gagueira. Uma intervenção logo cedo provavelmente teria ajudado, mas May Beth nunca conseguiu convencer Claire a fazer alguma coisa. A escola acabou sendo um inferno para a Sadie. As crianças não são gentis com coisas que não entendem, e, na opinião da May Beth, faltou certa compreensão aos professores da Sadie.

MAY BETH FOSTER:

Sadie acabou ficando bem apesar deles, não por causa deles. Eles achavam que a gagueira significava que ela era burra. Só vou dizer isso.

WEST McCRAY:

Edward Colburn, de quarenta e quatro anos, nunca se esqueceu da Sadie. Ele tinha acabado de começar a carreira como professor na Parkdale Elementary quando ela foi para a turma dele. Parkdale, como mencionei, fica a quarenta minutos de Cold Creek e recebe alunos de outras cidades, para que possam estudar. É assim que Edward se lembra da antiga aluna no primeiro ano:

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