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Sadie(2)
Author: Courtney Summers

Ouvi falar pela primeira vez do assassinato de Southern em um posto de gasolina perto de Abernathy, a uns trinta minutos de Cold Creek. Eu estava com minha equipe nas planícies orientais, e tínhamos acabado de encerrar as entrevistas para um segmento de um episódio de Sempre por aí dedicado a delinear os perfis das pequenas cidades dos Estados Unidos. Vocês sabem, essas que estão em franca decadência. Queríamos que os habitantes nos contassem o que as cidadezinhas perderam não porque acreditávamos poder retomar sua antiga glória, mas só para o público saber que elas existiam. Queríamos dar a elas uma voz antes que desaparecessem.

JOE HALLORAN:

É uma ideia legal. A de que alguém se importa.

WEST McCRAY:

Esse foi Joe Halloran, um dos residentes de Abernathy que entrevistamos. Eu não estava pensando nas palavras dele quando parei atrás de um cara no posto de gasolina e o ouvi contando ao funcionário exatamente o que aconteceu com a menina. Os fatos horrendos não me inspiraram a ficar lá. Minha equipe e eu conseguimos o que precisávamos e estávamos prontos para ir para casa. Era uma coisa horrível, claro, mas vivemos em um mundo onde não faltam coisas horríveis. Não dá para parar por causa de todas.

Um ano depois, eu estava no meu escritório de Nova York. Era outubro, um ano exato depois da morte de Mattie. Na verdade, era dia três… e minha atenção ficava vagando da tela do computador para a janela, por onde eu via o Empire State Building. Eu gostava do meu trabalho na WNKR e gostava da minha vida na cidade, mas talvez uma parte de mim – a mesma parte que me permitiu me afastar da história de Mattie na primeira vez sem nem pensar duas vezes – estava precisando de uma mudança radical.

Essa mudança chegou na forma de uma ligação.

MAY BETH FOSTER [TELEFONE]:

É West McCray?

WEST McCRAY [TELEFONE]:

É, sim. Como posso ajudar?

MAY BETH FOSTER [TELEFONE]:

Aqui é May Beth Foster. Joe Halloran me disse que você se importa.

WEST McCRAY:

Não havia nenhuma novidade no caso de Mattie Southern, nenhum suspeito. A investigação parecia ter chegado a um beco sem saída. Mas esse não foi o motivo para o contato de May Beth.

MAY BETH FOSTER [TELEFONE]:

Preciso da sua ajuda.

WEST McCRAY:

Três meses atrás, em meados de julho, ela recebeu uma ligação da delegacia de Farfield, Colorado, uma cidade que fica a muitos quilômetros de Cold Creek. Encontraram um Chevy preto de 2007 estacionado no acostamento e, dentro dele, um saco verde cheio de pertences da irmã mais velha de Mattie, Sadie Hunter, que tinha desaparecido em junho. Sadie não estava em parte alguma, e ainda não tinha sido encontrada. Depois de uma investigação superficial, as autoridades locais declararam que ela tinha fugido de casa. Vendo todas as possibilidades esgotadas, May Beth Foster me procurou. Eu era sua última esperança. Ela achava que talvez eu pudesse fazer Sadie voltar para casa viva. Sadie tinha que estar viva, porque…

MAY BETH FOSTER [TELEFONE]:

Não aguento outra garota morta.

 

 

sadie

Encontro o carro nos classificados.

A marca não faz diferença, acho, mas para quem precisar de mais do que isso para entender, é todo quadradão e preto como a noite. Do tipo de cor que desaparece no meio de outras. Banco de trás grande o bastante para servir de cama. Estava sendo vendido por um anúncio escrito às pressas em um mar de anúncios escritos às pressas, mas esse estava cheio de erros de ortografia que indicavam um tipo especial de desespero. Faça uma oferta, pr favo foi o que me fez bater o martelo. O pedido significava Preciso de dinheiro agora, o que quer dizer que alguém está encrencado ou com fome ou tem algum tipo de necessidade química. Quer dizer que eu tenho vantagem, então o que fazer, senão comprar?

Nem passa pela minha cabeça que me encontrar com alguém em uma estrada fora da cidade para comprar um carro por qualquer quantia que eu estivesse disposta a pagar talvez não fosse a coisa mais segura do mundo, mas isso só porque o que vou fazer quando estiver com o carro é ainda mais perigoso do que isso.

– Você poderia morrer – eu digo, só para ver se o peso das palavras na minha boca faz a realidade da situação entrar na minha cabeça pelo choque.

Não funciona.

Eu poderia morrer.

Pego minha mochila de lona verde no chão, penduro no ombro e passo o polegar pelo lábio inferior. May Beth me deu mirtilos ontem à noite, que comi no café da manhã, quando acordei. Não sei se mancharam minha boca, e já tenho uma enorme dificuldade com primeiras impressões naturalmente.

A porta de tela do trailer está enferrujada e solta um gemido nesse Nenhum Lugar Importante que nos cerca. Para quem precisar de uma imagem, é só pensar num lugar bem pior que um subúrbio e me imaginar num lugar ainda mais pobre, morando, durante toda minha vida, em um trailer alugado pela May Beth dos mirtilos. Moro em um lugar que só serve pra ser abandonado, isso é tudo que precisa ser dito, e não me permito olhar para trás. Não importa se quero, só é melhor não olhar.

Pego a bicicleta e pedalo para fora da cidade. Faço uma parada rápida na ponte verde por cima do rio Wicker, olho para a água e sinto a atração vertiginosa da corrente forte nas minhas entranhas. Remexo na bolsa, afasto roupas, garrafas de água, umas batatas fritas e minha carteira até encontrar o celular enrolado em uma bola de roupas íntimas. É um pedaço barato de plástico; não tem nem tela touch. Eu jogo o aparelho na água, volto para a bicicleta e pedalo para a estrada Meddler, perto da rodovia, para encontrar a mulher que escreveu o anúncio nos classificados. O nome dela é Becki com i. Ela escreveu isso, com i, como se eu não tivesse notado em cada e-mail que enviou. Ela está parada ao lado do carro preto quadradão, uma das mãos no capô e a outra na barriga de grávida. Atrás dela tem outro carro parado, um pouco mais novo. Um homem está no volante com o braço pendurado para fora da janela, e ele está tenso até me ver, momento em que toda sua tensão parece derreter. Ofensivo. Eu sou perigosa.

Você não deveria subestimar as pessoas, tenho vontade de gritar. Eu tenho uma faca.

É verdade. Tem uma faca retrátil no meu bolso de trás, esquecida por um dos namorados da minha mãe, Keith. De muito tempo atrás. Ele tinha a melhor voz de todos, tão suave que era quase fofinha, mas não era um homem legal.

– Lera? – pergunta Becki, porque foi esse nome que dei a ela.

É meu nome do meio. É mais fácil de dizer do que o meu.

Becki me surpreende pelo jeito como fala. Como um joelho ralado. Fumante há muito tempo, tenho certeza. Eu faço que sim, tiro o envelope cheio de dinheiro do bolso e entrego. Oitocentos no total. Tudo bem, ela negociou em cima da minha oferta inicial de quinhentos, mas sei que é um bom negócio. Estou mais ou menos pagando os consertos que eles fizeram na lataria. Becki diz que deve durar pelo menos um ano.

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