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Sadie(4)
Author: Courtney Summers

O detetive George Alfonso, do Departamento de Polícia de Abernathy, chefe das investigações, parece um astro de cinema que passou do auge da carreira. É um homem negro de um metro e oitenta e dois, com sessenta e poucos anos e cabelo curto e grisalho. Ele expressa consternação pela falta de pistas, mas, considerando as circunstâncias, não está exatamente surpreso de haver tão poucas.

DETETIVE ALFONSO:

Nós não percebemos de cara que estávamos lidando com um assassinato. Recebemos uma ligação sobre um incêndio e, infelizmente, boa parte da cena do crime foi destruída pelos esforços do corpo de bombeiros para apagar as chamas.

WEST McCRAY:

As amostras de DNA que eles encontraram foram inconclusivas e não bateram com as de ninguém. Até o momento, não há grupo de suspeitos a investigar.

DETETIVE ALFONSO:

Nós preenchemos as lacunas entre o desaparecimento de Mattie até o momento de sua morte da melhor forma que pudemos. Assim que recebemos a informação de que ela estava desaparecida, emitimos um alerta. Procuramos na região e falamos com várias pessoas de interesse, gente com quem Mattie tinha falado nas horas anteriores ao desaparecimento. Elas foram inocentadas. Temos uma única testemunha que disse que a viu entrar em uma picape na noite em que desapareceu. Foi a última vez que ela foi vista.

WEST McCRAY:

A testemunha foi Norah Stackett, dona do Mercado Stackett, o único mercado em Cold Creek. Norah tem cinquenta e oito anos, é branca e ruiva e tem três filhos adultos, todos empregados na loja.

NORAH STACKETT:

Eu estava fechando a loja quando vi a menina. Tinha acabado de apagar as luzes, e ali estava Mattie Southern, na esquina, entrando numa picape. Estava bem escuro e não consegui ver se era azul ou preta, mas acho que preta. Não consegui ver a placa nem o motorista, nunca tinha visto aquela picape e não a vi depois. Tenho certeza de que reconheceria se a visse de novo. No dia seguinte, eu ouvi que tinha polícia por toda Sparkling River, e imaginei que ela estivesse morta. Eu só sabia. É estranho, não é? O fato de eu saber? [RISADAS] Isso me dá arrepios.

WEST McCRAY:

As garotas moravam em Sparkling River Estates. É um camping pequeno, só tem uns dez trailers, uns mais bem-cuidados do que outros. Objetos decorativos fofos e canteiros de flores decoram o gramado de um, enquanto um sofá podre cercado de lixo chama a atenção para outro. Não tem nenhum rio por perto, mas, seguindo a rodovia para fora da cidade, é possível encontrar um.

Como mencionei antes, o camping é gerenciado por May Beth Foster, a avó de consideração das garotas. Ela me mostra o trailer das meninas, um trailer duplo que está exatamente do jeito que Sadie o deixou. May Beth está em um estado suspenso de luto que não permite que ela o esvazie, apesar de não poder se dar ao luxo de não alugá-lo.

Não sei o que estou esperando quando entro, mas o ambiente está arrumado e limpo. Nos últimos quatro anos de vida, Sadie criou Mattie sozinha, mas, mesmo assim... ela era uma adolescente, e quando penso em adolescentes, penso em uma espécie de desastre natural; um furacão indo de aposento em aposento, deixando carnificina por onde passa.

Não era assim no lugar que elas chamavam de lar. Ainda tem copos na pia da cozinha e na mesinha de centro na frente da velha televisão na sala. O calendário na geladeira está congelado em junho, quando a Sadie desapareceu.

As coisas ficam sinistras nos quartos delas. O da Mattie parece que está esperando a volta dela. Tem roupas no chão, a cama está desfeita. Tem um copo vazio com manchas de água na mesa de cabeceira.

MAY BETH FOSTER:

Sadie não deixava ninguém tocar em nada.

WEST McCRAY:

O contraste com o quarto da Sadie é enorme e faz parecer que ele sabe que ela não vai voltar. No quarto dela, a cama está arrumada, mas, fora isso, todas as superfícies estão vazias. Parece que foi desocupado.

WEST McCRAY [PARA MAY BETH]:

Não tem nada aí.

MAY BETH FOSTER:

Encontrei todas as coisas dela no lixão nos fundos do terreno no dia em que me dei conta de que ela tinha ido embora.

WEST McCRAY:

Que tipo de coisas?

MAY BETH FOSTER:

Ela jogou fora os livros, os filmes, as roupas… praticamente tudo.

Fico machucada de pensar nela jogando a vida no lixo assim, porque é isso que sobrou. Tudo que era parte dela, tudo, estava naquela lata de lixo, e quando vi, comecei a chorar, porque pra ela... nada valia mais.

WEST McCRAY:

Você percebeu que isso ia acontecer? Ela deu algum tipo de indicação de que planejava ir embora?

MAY BETH FOSTER:

Naquela semana, antes de partir, Sadie ficou muito quieta, como se estivesse pensando em fazer alguma besteira, e falei para ela não fazer o que estava na cabeçinha dela. Eu disse: “Não faz isso.” Mas, àquela altura, eu já não conseguia mais me conectar com ela.

Mesmo assim, nunca imaginei isso…

Tenho que dizer que está me matando estar aqui. Eu só... preferia não estar.

WEST McCRAY:

Nós continuamos conversando no trailer dela, um aconchegante trailer duplo que ficava na parte da frente do terreno. Ela me faz sentar no sofá coberto de plástico, que faz um barulho alto cada vez que eu me mexo. Quando digo que não é um lugar muito bom para uma entrevista, vamos para a cozinha, nos sentamos à mesa, onde ela serve um copo de chá gelado e me mostra o álbum de fotos que fez das garotas ao longo dos anos.

WEST McCRAY:

Você fez isso?

MAY BETH FOSTER:

Fiz.

WEST McCRAY:

Parece o tipo de coisa que uma mãe faria.

MAY BETH FOSTER:

Ah, sim. Uma mãe deveria fazer.

WEST McCRAY:

Claire Southern, mãe da Mattie e da Sadie, não é um tópico de conversa que agrada, mas é inevitável porque, sem a Claire, as garotas não existiriam.

MAY BETH FOSTER:

Quanto menos falarmos sobre ela, melhor.

WEST McCRAY:

Eu gostaria de ouvir mesmo assim, May Beth. Pode ajudar. No mínimo, vai me ajudar a entender melhor a Sadie e a Mattie.

MAY BETH FOSTER:

Bom, a Claire era um problema, e não havia motivo pra isso. Algumas pessoas nascem… ruins. Ela começou a beber aos doze anos. Aos quinze, usava maconha, cocaína. Aos dezoito, heroína. Ela foi presa por pequenos crimes algumas vezes, contravenções. Um problemão. Eu era a melhor amiga da mãe dela, Irene, desde que Irene começou a alugar um trailer meu. Foi assim que entrei na vida delas. Nunca houve alma tão gentil quanto a Irene. Ela poderia ter sido mais firme com a Claire, mas não adianta remoer isso agora.

WEST McCRAY:

Irene morreu de câncer de mama quando a Claire tinha dezenove anos.

MAY BETH FOSTER:

Antes da Irene morrer, a Claire engravidou. Irene estava tentando aguentar por conta do neto ou neta, mas não... não era pra ser. Três meses depois que enterramos a Irene, Sadie nasceu. Eu prometi à Irene no leito de morte dela que cuidaria da garotinha, e foi exatamente isso que fiz. Foi o que sempre fiz porque, bom… você tem filhos?

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