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Sadie(7)
Author: Courtney Summers

– Bom, eu não sou o Ray e não conheço ele. – Ela me devolve a foto, e o tom de voz dela assume um tom meloso. – Sabe, meu pai me abandonou quando eu era mais nova do que você. Acredite quando falo que às vezes é melhor assim.

Eu mordo a língua porque, se não fizer isso, vou dizer alguma coisa feia. Só olho para o balcão, para uma mancha seca de café que não foi limpa. Coloco as mãos no colo para ela não ver que estão bem apertadas.

– Você disse que ele é cliente regular? – pergunta Ruby. Eu assinto. – Qual é seu número de telefone?

– N-não tenho te-telefone.

Ela suspira, pensa um segundo e estica a mão para pegar um cardápio de entregas na pilha arrumada ao lado dos guardanapos. Ela aponta para o número que tem impresso nele.

– Olha, vou ficar de olho. Pode ligar e me chamar, aí eu digo se o vi. Não posso fazer promessas. – Ela franze a testa. – Você não tem mesmo celular?

Eu balanço a cabeça, e ela cruza os braços, a expressão no rosto esperando por um obrigada, eu acho, e isso só me irrita mais. Dobro o cardápio e o enfio na bolsa junto com a foto, tentando ignorar o calor que está subindo pelo meu corpo, a vergonha horrível de não conseguir o que eu quero. Já é ruim ter acontecido, pior ser obrigada a demonstrar.

– Vo-você está mentindo – eu digo, pois não vou deixar que ela me obrigue a passar vergonha.

Ela me encara por um bom tempo.

– Quer saber, garota? Não precisa ligar. E seu café acabou.

Ela volta para a cozinha, e eu fico olhando. Bom trabalho, Sadie, sua idiota do caralho. E agora?

E agora?

Eu expiro devagar.

– Ei. – A voz soa leve como uma pena, insegura. Viro a cabeça, e a mulher está me olhando. – Nunca vi ninguém peitar as mentiras da Ruby.

– ... – Atravesso o bloqueio na marra e solto um pequeno ofego. – Você sa-sabe p-por que ela está me-mentindo?

– Não estou aqui há tanto tempo assim. Só o suficiente pra saber que ela sabe ser uma filha da puta quando quer. – Ela olha para as mãos. As unhas compridas e pontudas estão pintadas de rosa, e imagino a sensação delas na pele. Tudo numa pessoa pode ser uma arma se ela for inteligente. – Olha, tem um cara… às vezes ele está atrás da lanchonete, às vezes no posto… se ainda não foi expulso, pelo menos. Se tiver sido, você consegue encontrar ele perto dos latões de lixo no final do estacionamento. Seu nome é Caddy Sinclair. Ele é alto, magro. Pode ser que tenha alguma coisa a dizer.

– Tra-traficante? – eu pergunto, mas é uma pergunta que se responde, e ela nem diz nada. Eu desço do banco e coloco uma nota de cinco na bancada porque sei aonde tenho que ir agora. – Obrigada. Eu a-agradeço mesmo.

– Não me agradeça ainda – diz ela. – Ele não faz nada de graça e ninguém fala com ele sem precisar, então acho que seria bom você pensar direitinho se quer mesmo fazer isso.

– O-obrigada – eu digo de novo.

Ela estica a mão para o meu café pela metade, coloca as mãos em volta e diz com amargura:

– Sei algumas coisas sobre pais ausentes.

– Você veio atrás do Especial da Ruby?

A voz parece catarro, rouca e nada atraente. Saio da luz e vou para as sombras compridas da parada até estar na frente do Caddy e ele estar na minha frente. Contornei a lanchonete e o posto, e o sujeito não estava lá. Ele está no último lugar que me mandaram procurar: nos fundos do estacionamento, ao lado dos latões de lixo. Está encostado em um deles, rodeado por uma escuridão que, por um momento, quase lhe confere um tamanho maior, até que meus olhos se ajustam e vejo como o porte dele é patético. Ele é magro, os olhos são enevoados e sem vida. Barba por fazer cobre suas bochechas e seu queixo pontudo.

– N-não.

Ele está fumando. Dá um longo trago no cigarro aninhado entre os dedos. Vejo a ponta vermelha se acender e se apagar, e sinto um formigamento desagradável no pescoço ao me lembrar do Keith. Não quero falar no assunto, mas ainda tenho a cicatriz na nuca e fiquei com medo de fogo por muito tempo depois. Quando tinha quatorze anos, eu me obriguei a passar uma noite com uma caixa de fósforos e os acendi, segurando-os pelo tempo que aguentei. Minhas mãos tremeram, mas fiquei firme. Sempre esqueço que o medo não é algo invencível, mas sempre aprendo de novo, e acho que isso é melhor do que nunca aprender.

Caddy joga o cigarro no chão e o apaga com o pé.

– Sua mãe não ensinou nada sobre abordar homens perigosos no escuro?

– Q-quando eu vir um homem pe-perigoso, vou me-me lembrar di-disso.

Eu não tenho nenhum sentimento de autopreservação. Era isso que May Beth me dizia. Você não ligaria de morrer desde que a última palavra fosse sua. Já era difícil gaguejar, e mais ainda bancar a espertinha ao mesmo tempo.

Caddy se afasta lentamente do latão de lixo e pousa o olhar sombrio em mim.

– Va-va-va-va vai me-me-me mesmo?

Não é a primeira imitação tosca de mim mesma que ouço, mas tenho vontade de arrancar a língua dele da boca e estrangulá-lo com ela de qualquer modo.

– Eu pe-pe-pe… – Calma, eu penso, querendo dar um tapa em mim mesma por pensar isso. Calma não ajuda em nada. Calma é o que as pessoas que não sabem de nada me mandam fazer, como se a diferença entre ter gagueira e não ter fosse um certo nível de uma porra de paz interior. Até Mattie sabia que não devia me mandar ficar calma. – Eu pe-preciso falar co-com você.

Ele tosse e cospe uma coisa que parece cola no chão. Meu estômago revira.

– É mesmo?

– Eu q-q-quero…

– Não perguntei o que você quer.

Pego a foto e coloco na frente da porra da cara dele porque já está bem claro que tenho que fazer isso de um jeito diferente do que fiz com a Ruby. Como é que se diz? É melhor pedir perdão do que pedir permissão?

Mas eu também nunca fui boa em dizer desculpa.

– V-você conhece esse ho-homem? Pe-preciso s-saber onde encontrar e-ele.

Caddy ri e passa por mim, o ombro ossudo esbarrando no meu e me obrigando a recuperar o equilíbrio meio sem jeito. A confiança na maneira de mover o corpo não é a de um cara que não bate cinquenta e cinco quilos nem encharcado. Tento memorizar a maneira como os ombros dele se movem.

– Não sou a porcaria de um achados e perdidos de gente.

– Eu posso pa… eu posso pagar.

Ele para e se vira para mim, passando a língua sobre os dentes enquanto pensa no que eu disse. Em um passo rápido, ele diminui o espaço entre nós e arranca a foto das minhas mãos. Se eu estivesse segurando com força, ainda estaria segurando metade. Meu primeiro instinto é pegar de volta, mas me controlo a tempo. Acho que movimentos repentinos não funcionariam a meu favor.

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