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Sadie(9)
Author: Courtney Summers

EDWARD COLBURN:

Tiravam sarro dela por causa da gagueira, e isso fez com que se retraísse… Nós nos esforçamos para ajudar, mas vocês precisam entender que Parkdale sempre teve duas coisas: pouco dinheiro e muitos alunos. Adicione a isso uma mãe que não era nada receptiva às nossas preocupações e, bom… Não é uma receita de sucesso pessoal para uma criança. E acontece com mais frequência do que você gostaria de pensar, não só em áreas vulneráveis. Sadie era uma criança perdida e distante. Ela não parecia ter muitos ou sequer um interesse próprio. Era reservada, mas mais do que isso… eu quase diria que era vazia.

MAY BETH FOSTER:

Mas aí Mattie chegou.

WEST McCRAY:

No álbum da May Beth, a chegada da Mattie está marcada por uma Polaroid de um bebezinho de um dia nos braços de seis anos da Sadie. O jeito como a Sadie olha para a irmã recém-nascida é quase impossível de descrever. É insuportavelmente carinhoso.

WEST McCRAY [PARA MAY BETH]:

Olha só como ela está olhando pra Mattie… uau.

MAY BETH FOSTER:

Não é incrível? Sadie amava a Mattie com todo o coração, e esse amor lhe deu um propósito. Sadie decidiu que cuidar da irmã seria o trabalho de sua vida. Por mais nova que fosse, ela sabia que Claire não daria conta.

WEST McCRAY:

Você pode descrever o relacionamento das garotas com a mãe?

MAY BETH FOSTER:

Claire gostava da Mattie porque elas eram parecidas. Ela era a bonequinha da Claire, não a filha. Deu à Mattie um nome sulista. E Mattie achava que Claire era maravilhosa...

Mas isso era coisa da Sadie.

WEST McCRAY:

Como assim?

MAY BETH FOSTER:

Sadie sempre acobertou Claire, até mentia por ela. Fez Mattie achar que Claire estava doente… Acho que ela pensava que, se fizesse isso, Mattie sofreria menos quando a Claire, inevitavelmente, a decepcionasse. Não sei se foi o melhor para alguma delas. Foi muito difícil pra Sadie, principalmente depois que Claire foi embora. Não sei se Mattie chegou a entender tudo que a Sadie fez por ela nesse sentido. Talvez se tivesse vivido por mais tempo...

WEST McCRAY:

As fotos da Mattie são difíceis de olhar. Ela tinha cabelo louro, liso escorrido e brilhante, olhos azuis cintilantes e o rosto do mesmo formato de coração de Claire. É quase impossível ver esse tipo de vitalidade sabendo como a história da garotinha terminou.

WEST McCRAY [PARA MAY BETH]:

Não posso deixar de notar que a Mattie não olha para a Sadie com a mesma reverência.

MAY BETH FOSTER:

Mattie amava a irmã mais velha. Mattie era louca pela Sadie, mas era como se Sadie fosse a mãe da Mattie, e esse tipo de dinâmica é diferente. Os seis anos de diferença também têm seu papel. Cuidar da Mattie tirou Sadie da caverna e a obrigou a usar a voz, mesmo com a gagueira. Mas quando a Sadie não sentia vontade de falar ou não conseguia, Mattie sabia do que Sadie precisava só de olhar pra ela. Portanto, não se engane, elas eram apaixonadas uma pela outra, cada uma de seu jeito. Não sei se todas as irmãs são como essas duas. Tenho três e as amo muito, mas nunca fomos assim.

WEST McCRAY:

A cada página virada do álbum, a voz da May Beth vai ficando menos firme. Quando chegamos ao final, seus olhos se enchem de lágrimas.

MAY BETH FOSTER:

Ah.

WEST McCRAY:

Que foi?

WEST McCRAY [ESTÚDIO]:

Ela vira o álbum para mim. De um lado tem uma foto das garotas. Elas estão deitadas no sofá com plástico em cima da May Beth, um cobertor vermelho e laranja de tricô sobre as duas. Tem uma tigela enorme de pipoca no colo da Mattie. Elas estão hipnotizadas pelo que está passando na televisão; mais tarde, May Beth me conta que devia ser um filme antigo. As garotas amavam os clássicos. Sadie especificamente gostava de qualquer filme com Bette Davis. Mas o que chamou a atenção da May Beth nesse momento foi a página seguinte. Estava vazia. Tinha uma foto ali, ela insiste, e folheia o álbum freneticamente para ver se acabou se soltando e foi parar onde não devia. Ela verifica o chão ao nosso redor para o caso de ter caído. Não está em lugar nenhum.

MAY BETH FOSTER:

Mas onde… Não sei onde pode ter ido parar… era uma foto… as garotas estavam nela… era… era… Não consigo lembrar exatamente o que era… mas sei que tinha as garotas nela. Elas estavam aqui. Elas estavam bem aqui.

 

 

sadie

Eu vou matar um homem.

Vou roubar a luz dos olhos dele. Quero ver sua luz se apagar. Não se deve usar violência como resposta à violência, mas às vezes eu acho que é a única resposta. Não é menos do que ele fez com a Mattie, então não é menos do que ele merece.

Não espero trazer Mattie de volta. Nada vai trazê-la de volta.

Não é questão de encontrar paz. Nunca haverá paz.

Não tenho ilusão nenhuma sobre como vai sobrar pouco de mim depois que eu fizer isso. Mas imagine ter que viver todos os dias sabendo que a pessoa que matou sua irmã está respirando o ar que ela não pode respirar, enchendo os pulmões com ele, sentindo sua doçura. Imagine ele tendo a sensação do chão debaixo dos pés enquanto o corpo dela está enterrado abaixo.

Isso é o mais longe que já fui de qualquer coisa que conheça.

Estou no banco da frente, virando a faca retrátil na mão sem parar. Tem um cheiro de água suja no ar. Fecho os olhos e volto a abri-los e ainda estou no banco da frente, ainda girando a faca, o ar ainda pesado com o cheiro de sujeira do lago. Fecho os olhos e os abro de novo, e parece um daqueles sonhos em que estamos correndo e todo esforço que fazemos para ir adiante é recompensado com a certeza de que você vai ter que fazer tudo de novo e de novo e não tem linha de chegada e você não sabe como se fazer parar.

– Mattie.

O M do nome dela é um toque leve de lábios. Os dois ts não permanecem por tanto tempo.

Quando ela tinha cinco anos e eu tinha onze, Mattie se enfiava na minha cama, morrendo de medo do escuro, desesperada para que eu dissesse alguma coisa que a acalmasse. Minhas palavras quebradas nunca eram suficientes; eu só podia oferecer minha presença, e ela pegava o que podia, encostava a cabeça no meu ombro e adormecia assim. De manhã, minhas cobertas estariam emaranhadas em volta do corpinho dela, e meu travesseiro sempre ia parar debaixo da sua cabeça. Quando eu tinha onze anos e Mattie cinco, ela queria falar como eu e andava por aí picotando as palavras até que o Keith deu um tapa na bunda dela e disse Ninguém fala assim porque quer, e apesar de ter sentido ódio dele por isso, eu falei para a Mattie que ele estava certo. Quando Mattie tinha cinco anos e eu onze, eu já não conseguia fingir que cada frase tinha chance de sair da minha boca direito. Parei de falar por duas semanas pela mera dor da percepção, até que Mattie me olhou com os olhos impossivelmente arregalados e disse: Me diz o que você quer dizer.

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